Sobre o Ponto de Inconveniência



Na ultima quinta-feira (25/10) aconteceu a abertura da exposição Arte Agora! na Galeria de Arte Contemporânea da Fundação Cultural de Criciúma, conforme comunicamos à vocês aqui.

Quem vacilou e não foi, perdeu!

 Brinks.... não perdeu porque a exposição fica até dia 30/11, então bora lá! São 24 artistas incríveis de Criciúma e região que estão expondo seus trabalhos sob a curadoria de Fernando Lindote.

 Nós do Laborativo participamos com a obra Ponto de Inconveniência, uma proposição artística que depende da ativação do público e que se desmembra em três momentos.

Laborativo. Ponto de Inconveniência, 2012
Adesivo aplicado sobre cubo branco


1º Momento - Instalação


Neste primeiro momento, temos a instalação, um cubo branco posicionado entre a porta da entrada da galeria na qual o espectador encontra o significado da palavra Inconveniência e um adesivo, Ponto de inconveniência. O objeto dificultava o acesso de quem desejava entrar no local, tornando-o de fato um objeto inconveniente.


2º Momento - Proposição de intervenção


O segundo momento é de proposição (desmembramento da instalação). Quando o sujeito sai da galeria ele é convidado a também legitimar pontos (lugares, objetos, coisas) que ele considera inconveniente. Esse convite está estampado no verso do cubo e apresenta as instruções. Sobre o cubo há adesivos que podem ser levados pelos sujeitos para que realizem a ação.


3º Momento - Posto de Inconveniência

Laborativo. Posto de Inconveniência, 2012
Site (posto de coleta)

Em um terceiro momento, todas as imagens serão expostas no Posto de Inconveniência. Um posto virtual de coleta de inconveniências que, sendo um dos desmembramentos da proposição artística,  visa coletar, armazenar e difundir todos os pontos de inconveniência legitimados por esta ação.


Com essa obra propomos uma reflexão dos espaços da cidade, do corpo, do eu, da arte, do coletivo, da sociedade. É um processo de manifesto, de compartilhamento, de criação coletiva, de percepção, que lida  com uma função documental, inter-pessoal, informacional e comunicativa.


O que te incomoda?

Qual seu ponto de inconveniência? 


A Polêmica da Coruja - Igreja Bola de Neve X Graffiteiros



          A arte urbana sempre vem para desestabilizar o que é tido como real imutavel, e despertar o olhar sobre o banal, o não visto. E não é que temos mais um caso em que isso tornou proporções interessantes. (pra quem gosta de uma polêmica )


             Pois então, em uma torre de observação na orla da praia de Santos (SP) sete artistas se juntaram pra graffitar o muro. Até que representantes de uma igreja evangélica protestaram, afirmando que esse trabalho (mais especificamente a coruja) servia como a divulgação de uma seita dos estados unidos. Segundo  o pastor da igreja Bola de Neve essa coruja seria o simbolo Bohemian Grove, uma seita que hospeda anualmente alguns dos homens mais poderosos do mundo, entre eles ex-presidentes dos Estados Unidos, artistas e políticos. O pastor acredita que, por o governo da cidade ser laico, o símbolo deveria ser exposto apenas em ambientes privados.
 O pastor ainda diz "O que questiono é se houve a permissão para o grupo colocar o símbolo. O artista que desenhou a coruja já havia feito esse mesmo símbolo em outro local e colocado o nome da seita. Se ele desenhou a figura, eu posso escrever o logo da Bola de Neve no local também. Ou um símbolo de estrela, que representa o judaísmo. Ou até uma lua, do islamismo. Se fazemos apologia para uma seita, também podemos fazer para todas as outras seitas e religiões",

          Ainda segundo o site de noticias G1, um dos responsáveis pela arte no muro, Leandro Shesko, acredita que a igreja está querendo censurar o trabalho dos artistas. "Eles estão dizendo que estamos usando o símbolo de uma seita satânica. Não nos inspiramos no símbolo da seita. Eu já fiz um outro trabalho, onde interagi com a arte de um companheiro e completei o desenho de coruja de outro artista. Nisso, acabei fazendo alusão ao Bohemian Grove porque vi na internet e achei importante que os interessados se informem a respeito. Quando fiz o primeiro desenho não quis fazer propaganda. Apenas trouxe, por meio da arte de rua, um assunto exposto massivamente. Acho que isso tudo é um pouco de fanatismo".
Caveira foi retirada de muro em Santos após polêmica
envolvendo igreja e artistas
 
A polêmica acabou se espalhando pelas redes sociais. Centenas de pessoas se reuniram em uma página para comentar o pedido do pastor, que quer a remoção da figura, e a atitude dos artistas, mostrando opiniões divididas. Segundo o pastor, várias pessoas entraram na página pessoal dele fazendo graves ameaças. "Estou andando escoltado. A minha integridade física foi colocada em risco. Recebi várias ameaças covardes pela internet. Chegaram a falar até que invadiriam a igreja. Virou uma situação de guerra, de gangue. A minha intenção foi sempre pacificar. Esses rapazes já frequentaram a igreja e não são meus inimigos", comenta.

Segundo Leandro Shesko, o projeto foi aprovado por todos os responsáveis e por todas as secretarias da prefeitura relacionadas ao assunto. "Já estávamos com problemas com a igreja antes de iniciar o projeto. Havíamos desenhado uma caveira, mas a prefeitura pediu para apagarmos e resolvemos fazer algo com teor menos negativo. Resolvemos apagar antes das reclamações chegarem", explica.
Em nota, a Prefeitura afirma que a imagem da coruja foi escolhida para compor o painel pintado na torre por ser considerada símbolo da sabedoria e uma das poucas aves que distinguem, a cor azul, que é a do mar. A Prefeitura de Santos assegura que a coruja não será removida do local.


O que é o Bohemian Grove?

         Localizado na Califórnia, o Bohemian Grove é um acampamento pertencente a um clube privado de homens. Os "sócios" do Bohemian são recrutados principalmente da elite política, econômica, artística e da mídia dos Estados Unidos. Desde a fundação da seita, o mascote é uma coruja, símbolo do conhecimento. Os ex-presidentes americanos Richard Nixon e Ronald Reagan são alguns dos mais famosos membros que participaram das reuniões secretas da seita.

 (FONTE: G1)

         A utilização de simbolos religiosos é sempre algo muito polêmico e eu acho pessoalmente que falta informação pra tomar uma opinião, mas fica aqui os questionamentos. Afinal não faz muito tempo que em criciúma vimos cartazes do artista Joelson Bugila  (se você não sabe, não lembra, não estava aqui, dormiu confira AQUI  uma retrospectiva da polêmica) , que inclusive gerou a pesquisa da nossa colega de Laborativo Vanessa Biff, onde cartazes com conotação homoafetiva numa exposição que fala sobre "medos"  trouxeram novos questionamentos a cidade.

Uma das imagens dos cartazes de Joelson que ganhou o concurso "homofobia fora de moda" da Casa de Criadores


E você o que acha ? Que religião naõ deveria ser misturada no assunto ? Qual o limite da intenção do artista o do que a obra pode dizer? Acha que a obra deveria ser retirada? que deveriam se colocar todos os simbolos religiosos possiveis para equilibrar? que é bobagem? que tem tanta gente passando fome pra se interessar por isso ?  Não acha nada? nem leu até aqui ?


Sobre o Soirée




CULTURA, DIVERSÃO E ARTE! 

Esta era a proposta do Soirée, evento que aconteceu no Emporium Pub, neste ultimo sábado (20/10) e é claro que nós do Laborativo fomos prestigiar e contamos aqui nossas agradáveis impressões. 

Logo que eu vi a divulgação achei que era mais uma iniciativa do C.A, porém após visualizar o flyer de divulgação foi possível ver que se tratava de uma iniciativa dos próprios acadêmicos da 8º fase de licenciatura. 

 O principal objetivo do Soirée, conforme divulgado nas redes sociais seria o de “Contribuir na ampliação do repertório artístico cultural de jovens e adultos universitários e da comunidade, através de experimentações sensoriais, visuais e musicais, por meio de exposições, apresentações artísticas e experiências estéticas.” 

Quando eu cheguei no local já se passava das 22h, então perdi grande parte das atrações que estavam sendo divulgadas como: perfomance, sarau de poesias e teatro. :(


Nathalia Barros Silvestre. Imersão da natureza, 2012.

Senti um clima muito agradável, de fato, agregar música e entrada gratuita, resultou num público bem diferenciado, o que é bom, pois mostrou que o evento atingiu um público que não está acostumado com essa vivência em arte

O potencial que eu vejo nisso é que este mesmo público, possivelmente atraidos por esses dois itens acima citados, se divertiram e de quebra ampliaram seu repertório.... Essa era a proposta do Soirée, que eles conseguiram executar muito bem. 

Posso estar falando demais, mas talvez alguns do que estavam ali, estavam tendo contato com a arte, nessas circunstâncias, pela primeira vez. Já que o que percebo frequentando os espaços formais de exposição é que há sempre um mesmo público. 

Sobre as obras... elas tomavam parte do térreo, as escadas e o 1ª andar. E ao que me pareceu não eram só de acadêmicos.... outros artistas estavam expondo. Eu bati algumas fotos com o celular, que ficaram péssimas por sinal. 

Espaço expositivo - 1º andar

 Como egressa do curso de Artes Visuais, achei essa iniciativa incrível, sei que faz parte de alguma disciplina do curso, talvez a do estágio em espaços não formais, mas posso dizer que a proposta foi bastante instigadora, até mesmo pra por em cheque o estatuto de cultura da cidade

Felizmente este não é o primeiro evento que temos que agregou musica e arte em espaços não formais, posso citar a festa Vogue  e as iniciativas do Coletivo Murro que vem agregando este novo cenário cultural da cidade. 

Se as pessoas não vão até a arte, a arte está indo até as pessoas. E ver cada vez mais pessoas preocupadas e dedicadas em promover isso, é ótimo! 

Espaço expositivo - Escada

Mas nesse evento em questão, todos ganharam. Os acadêmicos produtores por pensar num evento não apenas para garantir uma aprovação em uma matéria e sim por acreditarem no potencial, os acadêmicos que ganharam mais um espaço de visibilidade na cidade para expor seus trabalhos, e a cidade que desfrutou de uma nova alternativa de entretenimento que propôs um acesso diferenciado a cultura e arte. 

Estão de parabéns! Os acadêmicos e também o curso e os professores, por provocarem seus alunos a produção deste evento tão rico e necessário em nossa cidade. O que percebo é que a cada ano vemos todos se emprenharem mais e mais para a melhora do curso, pena que por vezes isso não é reconhecido pela UNESC. 

 Parece que ainda por essa semana ocorrem mais dois eventos:



 Então fica o convite para quem não foi, ou foi ao Soirée.

 Lembrando que saiu uma reportagem sobre o evento no Diário de Notícias que vocês pode ler aqui

Laborativo convida: Arte Agora!





Convidamos todos à prestigiarem a abertura da exposição Arte Agora! sob curadoria de Fernando Lindote.

A exposição é resultado do projeto Conversas Itinerantes contemplado pelo Fundo Municipal de Cultura de Criciúma e contará com grandes artistas, tendo inclusive nós do Laborativo.

QUANDO? Quinta-feira (25/10) às 20h
ONDE? Fundação Cultural de Criciúma

Especial Viagem Bienal SP: LYGIA CLARK




Para inaugurar o Especial Viagem Bienal SP, falaremos brevemente da experiencia única que foi visitar a mostra Lygia Clark: Uma retrospectiva, que nós do Laborativo amamos de paixão.

Paixão que se iniciou logo na primeira fase do curso, onde tínhamos que fazer uma história em quadrinho sobre um artista e salva-la em DISQUETE.

Conhecer a obra de Lygia Clark é poder observar,  numa única artista, essa transição do que foi o período moderno ao contemporâneo.

Nessa retrospectiva é possível visualizarmos o período concreto ao neoconcreto de Lygia, fase em que ela rompe com o espaço bidimensional do quadro. Como também sua fase posterior, a qual abandona rótulos e escolas - características da arte contemporânea - passando a dedicar-se ao desenvolvimento de experiências sensoriais,  para então construir uma arte que se concretiza na participação do publico, estendendo assim, os limites de compreensão de uma obra de arte.



A exposição acontece no Itau Cultural, local onde nunca havíamos botados os pesinhos, e o que percebemos é que as salas expositivas não correspondem necessariamente a uma ordem cronológica.

No térreo temos dois projetos Cinto Diálogo e Campo de Minas (obras produzidas a partir de anotações da artista que não nos recordamos o ano, pois não batemos fotos da plaquinha :~~), no primeiro, vestimos um cinto magnético que quando próximos ficam presos. Já no segundo, vestimos calçados e andamos sobre um campo magnetizado onde em determinadas áreas ficamos preso através dos imãs.

Cinto Diálogo
Campo de Minas

Indo para o primeiro andar, logo de cara, nos deparamos com A casa é O corpo (1968), uma instalação projetada por Lygia já no seu período arte e vida. Nesta obra o espectador é sujeito a passar pelo seu interior, e experimentar a sensação de reprodução, fecundação, nascimento.

No mesmo salão estão expostas suas obras que ilustram sua passagem do período concreto ao neoconcreto, que evidenciam essa necessidade das figuras geométricas extrapolarem os limites da moldura, rompendo a bidimensionalidade e as estruturas do quadro,  tomando assim a tridimensionalidade. Atravessamos essa passagem diante de obras como Composição (1953-53)Superfícies Moduladas (1955-57), Casulos (1959) até finalmente a concepção de Bichos (1960), onde finalmente a tridimensionalidade ganha espaço.

Bichos (1960)

Bichos (1960) é a primeira obra de Lygia onde o espectador é transformado em participador, sendo convidado a descobrir as inúmeras formas que esta estrutura oferece, manipulando suas dobraduras de metal.

PAUSA DRAMÁTICA

~~~~ Em 2008 - nossa primeira bienal - ficamos muito enfurecidos pois quando vimos, pela primeira vez, ao vivo, a obra de Lyginha na Pinacoteca, ela estava dentro de um aquário, completamente intocada, agora finalmente depois de 4 anos podemos dizer que nosso sonho se realizou ~~~


Continuando o percurso...

No primeiro andar  do subsolo temos os primeiros trabalhos de Lygia no grupo Frente, um marco no movimento Construtivista Brasileiro, até a obras de sua fase de arte participativa como a Rede de elásticos (1973). O foco nesse andar é o diálogo da artista com a arquitetura, por meio de esculturas como Trepantes (1963), ou das estruturas de Caixas de fósforos (1964).

Rede de elásticos (1973)

No mesmo andar temos dois videos/documentários da própria Lygia, que não deu tempo de ver :(

Descendo para o segundo piso do subsolo, o espectador é imerso na fase dos objetos sensoriais de Lygia, de 1964 à 1975, fase onde a artista começou a explorar o corpo humano, criando objetos para serem colocados em contato com o corpo do espectador.

Mascaras Sensoriais (1967-68)

Óculos (1968)

Neste andar somos convidados a participar, interagir com as replicas desses objetos e as proposições criadas pela Lygia, como O Eu e Tu (1967), Camisa de força (1968),  Túnel (1873) dentre outros que nos proporcionam uma experimentação ao próprio corpo . 


Neste mesmo andar, ainda temos duas "obras inéditas” não finalizadas pela artista que foram produzidas a partir de anotações deixadas por ela, são elas:   Filme Sensorial (1967) que retrata vários sons do dia-a-dia. E  O Homem no Centro dos Acontecimentos (1968) uma instalação formada a partir de projeções simultâneas nos quatro lados de uma pequena sala de imagens, captadas por quatro câmeras instaladas no capacete de uma pessoa andando nas ruas.



E é isso!

Para finalizar podemos dizer que a produção de Lygia Clark é tão importante dentre outras coisas, pois retira esse sentimento de sagrado e intocável que era muito comum em sua época mas que habita ainda hoje as obras de arte.
Em sua ultima fase, vemos que ela desvincula o lugar do espectador dentro da instituição de arte, estabelecendo vinculos entre arte e vida. Dessa maneira sua trajetória faz dela uma artista atemporal, sem um lugar definido na história da arte

Motivos e dicas para se visitar a Bienal de São Paulo



Em um país onde menos de 10% da população já visitou um museu, a Bienal, com sua escala monumental é um importante mecanismo de acesso à arte e cultura, instrumento que possibilita a cada dois anos, à centenas de milhares de visitantes o contato com a produção artística contemporânea.



PORQUE É IMPORTANTE PARA O BRASIL?

Sendo a primeira exposição de grande porte realizada fora dos centros culturais europeus e norte-americanos, a Bienal é importante na medida em que mantêm o Brasil no circuito mundial das artes, nos validando como país culturalmente ativo.

O evento é constantemente responsável por projetar a obra de artistas internacionais desconhecidos e por refletir as tendências mais marcantes no cenário artístico global, sendo considerada um dos três principais eventos do circuito artístico internacional, junto da Bienal de Veneza e da Documenta de Kassel. 


PORQUE VISITAR?

1- Você está pagando este evento são 21 milhões de reais investidos ali. A bienal é para todos!

2- Se você não é acadêmico/pesquisador/graduado em artes pode ser um passeio divertido, interativo, curioso, é de graça, e você pode sair de lá com ideias novas sobre o mundo e sobre a arte.

3- Se você é acadêmico/pesquisador/graduado em artes a visita devia ser obrigatória, não apenas para receber aquelas horas extra curriculares, mas por ser uma oportunidade unica que temos de conhecer e nos aproximar do que é produzido atualmente no cenário das artes, atualizando nosso repertório.


DICAS A QUEM FOR:

1- Abra-se para este encontro. Esse encontro é capaz de gerar sentimentos díspares, que vão do absoluto prazer à completa indignação, levando os visitantes a refletir sobre a arte e seu papel na sociedade.  Vá sem pré conceitos sobre a arte ou que você a considera, e prepare-se para possíveis desconfortos diante de algumas obras. 

2- Tente conhecer/ler sobre o evento/artistas antes. Essa dica vai pra todo mundo, porque com a internet ai, a informação tá de fácil acesso e não tem desculpinha. A cada bienal que passa, novos instrumentos de aproximação surgem, este ano existem audioguias que podem ser acessados aqui. Se possível  estabeleça os artistas que lhe são mais interessantes com antecedência.

3- Tá liberado pirar na batatinha. Em outras palavras a arte é doideira  Para compreender as obras, muitas vezes se faz necessário, devaneios conceituais, ou seja, viajar na maionese! Por tanto faça reflexões e associações que você achar conveniente, e que possam lhe ajudar ao entendimento da obra. 

4- Leia o titulo e artista da obra. Parece um conselho escroto, sim, nós sabemos. Mas é muito comum em meio a tanta emoção e ao tempo curto, sair passando o olho pelas obras, ficar batendo foto e esquecer do principal “ler o titulo e artista”, muitas vezes ele nos dá dicas a respeito do que estamos vendo, e mesmo se não entender, ainda temos a oportunidade de recorrer a internets depois. Além do que, é essencial para a nossa formação de repertório.

 5- Olhe com olhar crítico.  Já que você esta lá, reflita sobre o que esteja vendo.... Parece ser meio besta, mas cada detalhe da obra não deve passar despercebido, tudo na obra pode ser uma peça desse quebra-cabeça. Cada detalhe pode gerar uma proposta de reflexão que nem o próprio artista vislumbrou.

6- O porque, deve ser substituído pelo como! Não fique se martirizando em entender porque o artista fez aquilo. Tente descobrir como o artista o fez! Que material, como utilizou, como aconteceu, e o que isso pode significar poeticamente, cientificamente, filosoficamente ou mesmo obviamente.

 7- Permaneça em contato com a obra... É comum conforme o item 4, passarmos por tudo rapidamente. No final do encontro, não aguentamos mais ver nada, e o saldo foi 0, não absorvemos nada! Neste caso, de que adiantou ver todas as obras? Portanto PERMANEÇA, dê o tempo que a obra merece. Dialogue com a obra, interaja... por isso o conselho 2 se faz importante.

 8- Calma, a arte não precisa ser necessariamente discursiva! Ou seja, se você não conseguir entender patavinas de nada do que o artista quis propor com a sua obra, a culpa pode não ser sua. Muitas vezes o artista não quer dizer nada, quer fazer você dizer....as obras são experimentações, provocações, pesquisas, proposições e pedem para você criar o discurso.

LEMBRE-SE: Grupos geralmente recebem mediação das obras por uma equipe capacitada para isso, isso pode facilitar muitas vezes esse contato com a obra, ou não...

POLÊMICA: Artista retrata a Última Ceia com Jesus travesti



Para inaugurar nossa coluna ~~ Polêmicas ~~~uma notícia quentinha que está agitando esse mundinho da arte. A noticia vem lá da Servia, conforme noticiado pelo jornal The Sun .


   O bafo da vez é que a artista sueca Elisabeth Ohlson Wallin criou, se é que assim podemos dizer, mais uma versão polêmica do quadro “A Ultima Ceia” de Leonardo da Vinci.
   Sua adaptação gira em torno da temática homossexual, onde podemos notar um Jesus travesti e seus apóstolos gays, lésbicas e transexuais.... Oh GOD!!!
   A exposição abriu em Belgrado, capital da Sérvia, neste ultimo final de semana, e como consta no The Sun, contou com forte reforço policial.
   Tudo isso obviamente para garantir que nenhum fanático cristão invadisse a mostra intitulada “Ecce Homo”.
Cecilia Giménez. Ecce Homo, 2012.

Ecce Homo são as palavras que Pôncio Pilatos teria dito, em latim, ao apresentar Jesus Cristo aos judeus de acordo com o evangelho. Em português, a frase significa "Eis o Homem".  Ecce Homo também, pra quem não sabe, nos remete a esta conhecida obra:

Voltando à polêmica...

   Muitos protestos contra a obra começam a surgir, querendo o cancelamento da mostra. Segundo o jornal, uma multidão protestou do lado de fora ao que chamaram de “insulto” ao cristianismo.
   Temendo mais problemas, as autoridades cancelaram uma parada gay que estava com data marcada para acontecer na cidade. =/

    Este trabalho, produzido e apresentado pela primeira vez em 1998 em Södermalm em Estocolmo,  traz 13 fotos onde a artista se utiliza de modelos homossexuais para ilustrar passagens bíblicas, numa visão, que segundo a artista, retrata a vida de Jesus Cristo num contexto atual.

Elisabeth Ohlson Wallin. Krubban, 1998
   Em Krubban (traduzido: Nascimento),  Elisabeth mostra uma familia composta por pais homossexuais, algo devidamente coibido e rejeitado pelas correntes cristãs.  

Elisabeth Ohlson Wallin. Pietán, 1998
   Em Pietán (traduzido: Pietá), a artista parece insinuar que Jesus morre por causa da AIDS, o que nos remete à um dos preconceitos existente à classe homossexual.

Elisabeth Ohlson Wallin. Judaskyssen, 1998
    Em Judaskyssen (traduzido: O Beijo de Judas), na vestimenta de Jesus é possivel notar um triângulo rosa. Este era um símbolo usado nos campos de concentração nazistas para indicar homens que haviam sido capturados por práticas homossexuais, sendo o símbolo mais antigo existente que representa a comunidade homossexual. Assim sendo, o triângulo rosa de ponta cabeça passa a ser um dos símbolos de movimentos internacionais favoráveis às minorias sexuais, sendo, no entanto, um pouco menos popular que a bandeira arco-íris. 

Elisabeth Ohlson Wallin. Korsfästelsen, 1998
   Em  Korsfästelsen (traduzido: Crucificação), a artista faz uma analogia a crucificação, entre a perseguição existente entre os homossexuais por parte dos skinheads.

Para ver todas as outras fotos clique aqui

   Não podemos dizer com certeza o que ela pretende com isso, mas certamente deve ser uma critica a posição da igreja católica contra os homossexuais, além de enfatizar todo o tipo de preconceito que ainda prevalece na sociedade.

E você o que achou disso?

   Isso me retemeu a polêmica do ano passado, onde um acadêmico e artista fez uma releitura da mesma obra ("A Ultima Ceia" de Leonardo da Vinci) porém para representação dos apóstolos usou 12 objetos fálicos (11 brancos e 1 marrom) em base de argila sobre pratos de porcelana.  Se você estava em coma e não ouviu falar disso veja aqui.

Bienal Universitária de Arte da UFMG e da UEMG abre inscrições



Você estudante de artes visuais, que reclama que não tem visibilidade, muito menos um portfolio....
Quando se forma, e agora? Se vê perdido!
Quais produções você realizou nesses quatro anos de graduação?
Quais pesquisas? Qual motivação para continuar?

Ou tudo que você terá em breve é apenas um diploma? Uma folha de papel?

Para você que quer fazer a diferença e construir algo que vai além de sentar e ouvir os professores, estão abertas as inscrições da segunda edição da “Bienal Universitária de Arte – Bienal 1″.

       
   Com a proposta de apresentar a diversidade da produção artística dos estudantes universitários brasileiros e latino-americanos, o evento visa o intercâmbio das pesquisas em artes visuais realizadas no âmbito universitário.

     Ficou interessado? Quer participar?
    As inscrições, que são gratuitas, acontecem através do site bienaluniversitariadearte.ufmg.br e vão até 17 de outubro. O processo seletivo comtempla estudantes de artes de universidades públicas e privadas.

Aqui vai um conselho de quem já formado em Bacharel em Artes Visuais....aproveite, as oportunidades!

Para refletir: Pixação é arte?





Fonte: Projeto Depredação Poética


A pixação nasce de um ato de transgressão, subversão, rebeldia. Vista como visualmente agressiva, muitas vezes é associada ao vandalismo e a degradação da paisagem. 
Tudo isso nos leva a  concluir que a mesma é desprovida de valor artistico. Mas será?
A própria Bienal de São Paulo, na sua 29º edição em 2010, após sofrer ataques de pixadores em 2008, abriu espaço, agora de forma consentida, para a pixação, dividindo opiniões e alimentando cada vez mais as discussões em torno dos limites da arte.

O texto que trago é antigo, foi publicado na SuperInteressante, edição de maio de 2005, mas nos ajuda a refletir a respeito da pixação como arte.

Boa leitura.

Pichação é arte

por João Wainer*


  Trabalho como repórter-fotográfico em São Paulo e passo o dia todo rodando pelas ruas dessa gigantesca cidade. O banco da frente do carro de reportagem é meu escritório. O barulho das buzinas dos motoboys, o cheiro de fumaça e os congestionamentos fazem parte da minha rotina.
Faz tempo que comecei a prestar atenção às pichações que dominam os muros da cidade. Conheci alguns pichadores e descobri que existe uma guerra silenciosa na noite paulistana. Milhares de jovens disputam os lugares mais altos para marcar seu nome ou o de seu grupo. Eles escrevem num alfabeto próprio, desenvolvido com linguagem e códigos específicos. Ganha a disputa quem pichar mais alto, no lugar com maior visibilidade.
  A cada nova história que escutava eu me interessava mais pelo assunto. Passei a reparar nas letras, a tentar decifrar cada palavra e mensagem como se fosse um quebra-cabeça. Aos poucos, aquilo que parecia caótico começou a fazer sentido para mim. Percebi que aquilo não era tão feio como alardeavam. Na verdade, a suposta feiúra da pichação até combinava com a paisagem acinzentada de São Paulo. O estilo das letras, a forma, o jeito com que elas são escritas são lindos. Adoro ver no alto dos prédios aquelas pichações enormes, com letras enfumaçadas. Tento imaginar quem fez, como fez e o que passou pela cabeça dele enquanto fazia.
  Pouca gente sabe, mas o estilo de letras criado pelos pichadores de São Paulo é cultuado na Europa. Existem livros na Alemanha que tratam exclusivamente da bela grafia das pichações paulistanas, com fotos e textos analíticos sobre o assunto. Creio que ao lado dos motoboys, os pichadores são o que há de mais representativo e genuinamente paulistano.
  Além de bonito, o ato de pichar é um efeito colateral do sistema. É a devolução, com ódio, de tudo de ruim que foi imposto ao jovem da periferia. Muitos garotos tratados como marginais nas delegacias, mesmo quando são vítimas, ridicularizados em escolas públicas ruins e obrigados a viajar num sistema de transporte de péssima qualidade devolvem essa raiva na forma de assaltos, seqüestros e crimes. O pichador faz isso de uma maneira pacífica. É o jeito que ele encontrou de mostrar ao mundo que existe. Os jovens da periferia das grandes cidades precisam aprender a canalizar esse ódio para atividades não violentas, como o rap, o grafite e até mesmo as pichações – que também podem ser consideradas um esporte de ação, tamanha a descarga de adrenalina que libera em seus praticantes. Ser pichador requer ótimo preparo físico para escalar muros e prédios, andar por parapeitos com latas de spray e correndo o risco de ser pego pela polícia ou por algum morador furioso.
  Não é só por isso que considero artísticas as pichações de São Paulo. A definição do que é arte tem algo de relativo e abstrato. O que é arte para uns, pode não ser para outros. Tudo depende das informações que cada um tem, onde e como vive, como cresceu e que tipo de formação educacional teve. É verdade que a ação dos pichadores desagrada e é condenada pela maioria das pessoas que vivem em São Paulo. Mas grandes artistas do último século usaram a arte para reverter conceitos estabelecidos e provocar mudanças de comportamento. Para isso, precisaram incomodar o establishment. Toda arte que se preze tem de incomodar, causar no espectador algum tipo de reação à qual ele não está acostumado. A pichação é um bom exemplo de como cumprir bem este papel.
  Não defendo que cada leitor compre uma lata de spray e saia pichando seu nome por aí. Apenas tento entender, livre de preconceitos, um fenômeno que é visível nos pontos mais movimentados da cidade e que faz parte da vida de todos que andam por São Paulo. A pichação é o pano de fundo da cidade, um detalhe do cenário que combina com a cor do asfalto, o cinza dos prédios, o cheiro da fumaça que sai do escapamento dos ônibus, o barulho do motor, da buzina dos motoboys, da correria...

* Tem 28 anos e é repórter-fotográfico do jornal Folha de S. Paulo desde 1996
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