Considerações sobre a performance: VENDO ESTE CORPO





Este é o trabalho da Mahira Silveira, uma performance que ocorreu no inicio da tarde de terça-feira (27/11/12) na Praça Nereu Ramos, no centro da cidade de Criciúma (SC).

Na performance, a acadêmica desloca o contexto do corpo que frequenta as noites da Av. Centenário para a principal praça da cidade e provoca questionamentos sobre o uso do corpo e da negação da realidade a qual vivemos.


Vale ressaltar que a performance fazia parte de um trabalho a ser apresentado à disciplina Performance e Intervenção e que sendo uma experiência em produção artística universitária é interessante podermos observar a importância do estado de performance, onde o artista se propõe a experimentar uma situação, uma vivência que não é a sua realidade. Para isso ele tem de estar apto a se por no lugar do outro, escolher sofrer o preconceito, estar a mercê das outras pessoas e da critica alheia, tal qual visto nas repercussões nas redes sociais e como vemos na matéria vinculada no Portal de Noticias Engeplus:

"Próximo do local, a missionária Miriam Ribeiro, de 33 anos, não aprovou o trabalho do grupo. “Acho um absurdo, é uma falta de respeito, tantas coisas para exaltar, acho que a prostituição é desnecessária. Sei que é um trabalho, mas tem lugar para tudo e aqui não é local para isso”. "

Porque ali não é local para isso? É local para isso e para muitas outras coisas!

Se não fosse a placa que a artista segurava, claramente seria um deslocamento do corpo que habita as casas noturnas da região para um uso diário.

A vestimenta estereotipada da "mulher da vida" que frequenta as ruas pode ser a mesma da "mulher comum" que frequenta as baladinhas, que de maneira contextualizada pela artista coloca o corpo como um produto, um objeto... a ser admirado, consumido, adquirido, sustentado, mas também humilhado e rejeitado. 



Dessa maneira, a performance pode ser vista como uma reflexão a prostituição?
Pode ser!

As prostitutas sempre tiveram um lugar na história, não é a toa que ouvimos que é considerada uma das profissões mais antigas do mundo, no entanto, ao longo dos anos, seu status passou de respeitável à condenável.
As prostitutas já foram admiradas pela inteligência e cultura, e também já foram associadas a deusas. Sabe-se que em muitas civilizações da antiguidade, a prostituição era um ritual em muitas religiões pagãs. Sendo consideradas grandes sacerdotisas (portanto sagradas), recebiam honras de verdadeiras divindades e presentes em troca de favores sexuais.

Na Grécia e na Roma, por exemplo, as meretrizes já eram regulamentadas e pagavam rios de impostos ao Estado.

No Brasil, a prostituição não é crime, na medida em que não existe lei que a proíba, no entanto de acordo com a Constituição Federal, o incentivo à prostituição e o comércio do sexo são atividades ilegais. Ou seja, não se pode lucrar com a venda do corpo de outras pessoas. Assim, manter casas de prostituição, viver à custa de prostitutas ou mesmo induzir alguém a esse tipo de trabalho, por exemplo, são considerados crimes e as penas podem ir de um a oito anos de reclusão.

No entanto, toda pessoa é dona de seu corpo e pode usá-lo como quiser.

Prova disso são os contantes leilões de virgindade.

Fonte: G1


Da mesma maneira a performance pode ser vista como uma reflexão a sociedade?
Pode e deve ser!


A sociedade é hipócrita! Pois essa mesma sociedade que julga a venda do corpo das anciãs do prazer, é a qual frequenta clinicas de estética e academias, em busca de um físico “saudável”, mas também coloca silicone, faz depilação, lipoaspiração.... a troco do que?


Esta é a cultura do corpo, a valorização exacerbada que nos induz a uma venda, não por dinheiro tal como as prostitutas o fazem, mas em troca de um bem estar construído pela mídia, pelo o outro, pela a sociedade.

Talvez, nunca o corpo esteve tanto em destaque como agora.

 É fato! Nessa sociedade contemporânea, as preocupações com o corpo se tornaram contundentes ao novo estilo de vida propagado e foco determinante na criação da própria identidade cultural. Basta observarmos, dentre outros fatores, a importância dada e amplamente divulgada.

Conforme Pereira (2002), a mídia é uma parceira estratégica para este contexto de alta visibilidade do corpo, característico da sociedade de consumo, por meio da qual divulgam-se formatos e padrões de corpo, bem como maneiras de ser tratado, modificado, produzido e, por que não dizer, reproduzido.


 Na cultura pós-moderna, o olhar ao corpo potencializa a ditadura da boa forma, e o reflexo disso afeta principalmente as mulheres, que ao buscar este corpo perfeito e eternamente jovem, agradável aos próprios olhos e aos olhos da sociedade, deixam de usufruir suas inúmeras conquistas, desperdiçando tempo e dinheiro em troca de uma fantasia.

Mas enfim, a quem estamos vendendo este corpo?


Referências

PEREIRA, C. A. M. Cultura do corpo em contexto de alta visibilidade. In: CONGRESSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, 9., 2002, São Luís. Coleção Prata da Casa. Edição Especial

SAVIATO, Douglas. O trabalho acadêmico que parou a praça Nereu Ramos. In. PORTAL DE NOTICIAS ENGEPLUS. Acesso em: 27 de novembro de 2012. Disponivel em: < http://www.engeplus.com.br/0,,53994,O-trabalhacademicque-par-a-praca-Nereu-Ram.html>

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