Isto te remete a isso?
Cow Parade (à esq) / Turf War (à dir) |
Foto da exposição Turf War de Bansky em Londres, 2003. |
Apesar das condições serem adequadas e aprovadas pela RSPCA (Sociedade Real para Prevenção da Crueldade contra os Animais), obviamente a exposição causou inúmeros protestos de ativistas, ongs e todos os defensores de plantão, sendo fechada por “razões legais”. No entanto o grande show acabou sendo importante para sua consagração, pois foi uma ação que atraiu multidões.
Estratégia de marketing ou não? Quais os limites da arte?
Na verdade, essa ação era uma crítica ao Brandalism, o fenômeno em que as marcas invadem áreas que não deviam fazer parte, como livrarias, construções públicas, escolas e sufocam a população a colocação de logomarcas sem a devida autorização.
Em contraponto a isso, temos a conhecidinha Cow Parade, que se intitula como sendo o maior evento do mundo de arte pública [1].
Será? Tenho minhas objeções! Vamos ao nascimento....
O conceito da "Cow Parade" tem suas origens na Suiça pelo diretor artístico Walter Knapp. Em 1998, ele pediu ao filho Pascal, artista plástico, que desenvolvesse um molde na forma de vaca que pudesse ser reproduzido e pintado de diferentes maneiras.
Mais porque uma vaca? Veja bem, a vaca é um dos símbolos do país, que é conhecido no mundo todo por seus chocolates. hmmm
Enfim.... essas vacas seriam distribuídas para os artistas locais usarem e abusarem de sua criatividade pintando da forma que desejassem e que fariam parte da exposição tradicional "Ahoyland" em Zurique, Suíça.
Opa, mas isso é a Cow Parede!
Exatamente! A idéia acabaria arrematada por um empresário americano, Peter Hanig, de passagem pela cidade, que levou o rebanho para Chicago (sede da primeira Cow Parade) em 1999.
Desde então, as vaquinhas estiveram circulando em inúmeras cidades nos cinco continentes.
Toni Machado. Soja e MUUUito mais, 2010. Av. Paulista, São Paulo (SP) |
No entanto, a Cow Parade tem se tornado alvo de críticos que a acusam de ser apenas uma estratégia de marketing disfarçada de arte e questionam a liberdade de expressão no evento, sendo uma pobre desculpa para a arte pública, concebida mais como uma atração turística do que como uma experiência estética.
A Cow Parade também recebeu críticas por seus padrões de seleção, pois geralmente política, sexo e religião são temas vetados na exposição.
Em 2000, na edição nova-iorquina, o projeto do cineasta David Lynch foi censurado pelos organizadores
A vaca de Lynch é decapitada, sua cabeça sangrenta descartada dentro do corpo da própria vaca, que é rasgada. Garfos e facas ficar em seus flancos, rasgando a carne de vaca. Através de seus lados a frase "coma meu medo" é escrita.
Vaca censurada de David Lynch, 2000. |
Engraçado perceber, mas em comparação com as vaquinha que ultimamente se vê, talvez de todas as vacas, a vaca de Lynch seria a unica a fazer referência ao uso primário do gado nos Estados Unidos: gêneros alimenticios.
Na minha opinião o melhor.... Em 2004, um grupo intitulado Grafiteiros Militantes de Estocolmo seqüestrou uma das vacas expostas na capital sueca, como protesto contra vacas publicitárias carregando anúncios, e ameaçou "sacrificá-la" a não ser que as esculturas fossem declaradas pela organização do evento como "não-arte".
Para atrair a atenção da mídia, eles divulgaram um video, que me lembra muito aqueles terroristas da Al-Qaeda, em que dois encapuzados posavam com serras na mão ao lado da vítima indefesa.
"Exigimos que as vacas sejam declaradas não-arte. Caso contrário, o refém será sacrificado", avisou uma voz no vídeo. O grupo deu aos organizadores um prazo até dia 23 às 12h para concordar com a exigência.
O desfecho foi trágico: a pobre vaca virou picadinho. :(
Aqui no Brasil não foi muito diferente... Algumas das vacas também eram apenas propaganda com valor artístico questionável, o que ocasionou alguns movimento anti-Cow Parade.
Eduardo Srur. Touro Bandido, 2010. Av. Paulista, São Paulo (SP) |
Em 2010, o artista Eduardo Srur rouba a cena da Cow parade, realizando uma intervenção em que o "Touro bandido", conhecido por seu instinto indomável e pela participação na novela América, foi colocado em posição de acasalamento com duas vacas da exposição, em São Paulo.
A intervenção viria a questionar essa arte internacional, pois Srur não vê relação entre a vaca e a cidade de São Paulo. Com as réplicas do touro, ele tenta resgatar o imaginário nacional com o animal que se tornou lenda nacional. E continua alfinetando: “A CowParade é obra de refexão artística ou um trabalho de marketing muito exposto no resultado final?”
Eduardo Srur. Touro Bandido, 2010. Av. Brigadeiro Faria Lima, São Paulo (SP) |
“A vaca ficou estéril de reflexão simbólica e vem o touro e cria uma inseminação artística. Não vejo nenhuma relação entre a vaca, símbolo de outro país, e a história de nossa cidade. [...] O touro, sim, traz questionamentos: basta colocar um objeto na rua para ser arte pública? Não será preciso gerar algo mais para o espectador participar daquilo que vê? Um projeto de arte pública ou arte no espaço público deve trazer questões originais, relacionar-se com o espaço ocupado.” diz Srur em entrevista. [2]
E continua "se o Touro Bandido não tivesse um BO, não seria bandido [risos] e não iria acontecer essa discussão sobre os limites e a fronteira da arte no espaço público”. [2]
Aqui, o touro foi retirado pela organização do evento, com boletim de ocorrência registrando ato obsceno, difamação e danos materiais.
Considerado por seus organizadores um dos maiores eventos "contemporâneos de arte de rua do mundo", cria polêmica entre especialistas que trabalham com o conceito arte urbana.
Alexandre Fernandes. Massa Muscular, 2007 Rua Sete de Setembro, Rio de Janeiro (RJ) |
Como coloca Nelson Brissac, organizador desde 1994 do Arte/Cidade, projeto de intervenções urbanas [3]: "Um objeto decorativo em um espaço público não significa que seja arte. Isto está mais próximo de um produto de entretenimento. Mas não tem consistência artística, muito menos urbana. É um formato limitador".
Esse processo é repetitivo do próprio sistema de arte. O artista não tem mais como ser agressor da sociedade ou do sistema de arte. Tudo acaba sendo consumido, englobado", disse Leirner [3]. "Acho que para o público será interessante, mas para a cidade é apenas mais poluição visual."
O que eu concluo com tudo isso?
Bom, de um lado temos Banksy, interventor urbano, que marcou toda uma geração ligada ao ativismo político, tendo visão crítica de temas contemporâneos, fazendo obras carregadas de conteúdos sociais, comportamentais e políticos de forma agressiva e muitas vezes sarcástica. Ele não vende seus trabalhos diretamente, no entanto, sabe-se que leiloeiros de arte tentaram vender alguns de seus graffitis nos locais em que foram feitos e deixaram o problema de como remover o desenho nas mãos dos compradores.
Nelise Cardoso. Originals, 2007 Rua Garcia D’Ávila, 130, Rio de Janeiro (RJ) |
Do outro temos a Cow Parade criada jutamente para dar frutos, como a mesma se intitula “um dos únicos projetos que envolvem a comunidade por inteiro: empresas, artistas locais, terceiro setor e o público” [1] uma forma muito divertida de expressar a arte de rua e que abre inúmeras possibilidades para marcas de diversos segmentos, (que segmentos? Publicidade, marketing?) além de promover a democratização da cultura (mas a que preço?).
De fato, a sacada dos Knapp, se tornou um empreendimento multimilionário. A Cow Parade foi considerada pelo Advertising Age, uma das principais publicações internacionais de propaganda, como uma das 10 melhores idéias de marketing do ano em 2001.
E aqui vai o questionamento: São obras de arte? Ou apenas é uma nova maneira de vender? São produtos facilmente consumíveis? É uma mercadoria onde o patrocinador expõe sua marca?
O que eu vejo é que há uma banalização, um esgotamento na linguagem, com a curadoria questionada. Faço minhas a crítica de Srur, que coloca, "qualquer um que pintasse uma vaca se torna artista, o patrocinador é quem define o local a ser exposto e o que pode ou não ser pintado no objeto”.
De fato, a sacada dos Knapp, se tornou um empreendimento multimilionário. A Cow Parade foi considerada pelo Advertising Age, uma das principais publicações internacionais de propaganda, como uma das 10 melhores idéias de marketing do ano em 2001.
E aqui vai o questionamento: São obras de arte? Ou apenas é uma nova maneira de vender? São produtos facilmente consumíveis? É uma mercadoria onde o patrocinador expõe sua marca?
O que eu vejo é que há uma banalização, um esgotamento na linguagem, com a curadoria questionada. Faço minhas a crítica de Srur, que coloca, "qualquer um que pintasse uma vaca se torna artista, o patrocinador é quem define o local a ser exposto e o que pode ou não ser pintado no objeto”.
Isso pode se vangloriar como arte pública? Arte democrática? E você o que pensa sobre isso?
Referências Bibliográficas
[1] Site do Cow Parade. Brasil.
[2] OLIVEIRA, José Geraldo. Srur e as peripécias do Touro Bandido. Getulio, São Paulo, jun/10 , p.60-65, 2010
[3] Portal Arte e Cultura Terra. Vacas coloridas e antipichação espalham polêmica por São Paulo. 2010