Sobre as defesas que participamos (parte 1) : Maíra Silveira




Foi com prazer que nós, do Laborativo, fomos convidados a ser banca de cinco trabalhos de conclusão de curso de Artes Visuais - Bacharelado da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)

 As defesas aconteceram ao longo dessa semana, e como ficamos muito satisfeitos com cada pesquisa, decidimos apresentar a vocês o resultado desses trabalhos.

 Começaremos essa semana pela pesquisa da Maíra Silveira intitulada:

 PERFORMANCE ARTÍSTICA E RELIGIÃO: DA CRÍTICA A POÉTICA DE CRIAÇÃO


Fazer parte da banca da Mahira foi um desafio, pois tive que analisar seu trabalho como artista e pesquisadora, deixando de lado a “mahira minha amiga”.

Dizem que política, religião e futebol não se discutem. Mahira optou pelo caminho mais difícil, que foi falar sobre religião e falar sobre ela através da arte, que é uma linguagem que possibilita muitas interpretações.

Logo de cara, já saberia que não seria tarefa fácil, o trabalho é polêmico e ousado, e só por ela ter tido coragem de discutir um assunto tão delicado, já está de parabéns.

 A pesquisa procurou estabelecer uma relação entre corpo e sua representação na arte e sociedade, abordando questões como esteriótipos e a crise do corpo na contemporaneidade.

Sua produção deu enfoque a questões sobre o esteriótipo da cultura evangélica sendo ampla e intensa, pois a artista de propôs a vivenciar a experiência da performance desse esteriótipo religioso, levando-a a uma modificação de comportamento pessoal durante todo o processo de pesquisa.

As primeiras etapas deste processo começaram a surgir em seu próprio perfil na rede social, onde amigos e conhecidos foram surpreendidos com salmos bíblicos que indicavam uma possível conversão a uma instituição evangélica. E como amiga, posso afirmar que presenciei inúmeras pessoas vindo questiona-la sobre tais postagens.



Em seguida, a artista imersa no seu processo criativo cria uma página: Templo Conservador da Graça do Senhor, postando salmos de sua autoria neste espaço, eles levam a assinatura MHS (Mahira Silveira) e  numeração corrente.

Salmos de autoria da artista postados em sua página 


Durante todo este processo, seus hábitos foram sendo modificados tanto fisicamente quanto comportamental. E todo esse conjunto de fatores foram importantes e contribuíram para seu processo de transformação que culminariam na próxima etapa de sua produção que envolveu a experiência da Performance Artística, onde a artista com o corpo em experimentação vivenciou uma evangélica no centro da cidade.

A artista deixou os cabelos e sobrancelhas crescerem para vivenciar a experiência do esteriótipo religioso evangélico.


A performance envolveu uma caminhada que contemplou a passagem em frente de igrejas evangélicas e na entrada do túnel do Terminal Central onde distribuiu suas filipetas, tendo como conteúdo um salmo de sua autoria, onde faz uma reflexão sobre os estereótipos da sociedade, o homossexualismo e a ideia da salvação.

Filipeta desenvolvida pela artista e distribuida durante a performance aos transeuntes
(clique para maior visualização)


Em sua pesquisa, Mahira traz citações da bíblia e argumentos que sustentam sua produção, e que nos fazem questionar e refletir sobre muitos aspectos e costumes que constroem esse esteriótipo, como o uso de saias e cabelos compridos.

 “Não haverá traje de homem na mulher, e nem vestirá o homem roupa de mulher; porque, qualquer que faz isto, abominação é ao Senhor teu Deus”. Deuteronômio 22:5.

Se formos parar para analisar vale lembrar que as calças não existiam naquela época, elas só foram surgir no século XIX, Jesus usava saia, e os homens não se diferenciavam pela indumentaria, por exemplo.

Argumentando suas reflexões que “baseiam-se na concepção de que não necessitamos visitar templos para ter fé ou crer. [...] Por que os templos impõem regras, o homem faz a palavra, dita-as e abomina a os indivíduos que não as seguem. Se todos somos filhos de Deus, e temos nossas próprias escolhas, porque condená-los?” (SILVEIRA, 2014, p.65) E utilizando-se da arte como dispositivo de comunicação. A artista finaliza seu processo com uma intervenção na cidade, onde fixou duas placas com os dizeres “O Senhor não salva, não liberta, você é a salvação, se salva a partir de você mesmo.” junto a uma placa real sobre dizeres de que “Jesus só ele faz milagre, só ele salva, cura, libérta” de algum fiel de alguma instituição religiosa. E outra placa com os dizeres “O Senhor não virá, pois está muito ocupado. Não insista, não quero voltar! P.S: Senhor"

O resultado de todo esse processo, foi exposto através do video que consta abaixo:



Para concluir essa postagem, gostaria de dizer que foi um prazer poder acompanhar todo o  processo de pesquisa e obra da Mahira, e dessa maneira examinar seu trabalho final com mais propriedade.

Lembrando que anteriormente que ela já havia trabalhado o esteriótipo de prostituta abordando outra questão polêmica como as questões a cerca da venda do corpo, que já falei (aqui), posso afirmar que esse trabalho mostra o amadurecimento da Mahira enquanto artista e pesquisadora, e assim termino essa postagem com o desejo que sua jornada no estudo desses esteriótipos não pare por aí.

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