"Isso é arte?" O enigma da arte contemporânea




Hoje vou falar de um assunto polêmico, clichê e inesgotável.

Recentemente re-publiquei no facebook um texto que fiz em 2013 referente aos Acionistas Vienenses.
E tão logo percebi que isso provocou em algumas pessoas o questionamento de "isso é arte?". O que de fato é muito comum!

Na tentativa de contra argumentar com algumas pessoas, acabei  me lembrando de um texto que eu havia lido há algum tempo e que trago a seguir:


Damien Hirst. A impossibilidade física da morte na mente de alguém vivo (1991)
Fonte: Saatchi Gallery


Eu estava passeando pelo Metropolitan Museum of Art, há alguns anos com meu namorado Brad, que, sendo um engenheiro, estava um pouco fora do seu habitual rodeado por pinturas e esculturas. Eu temia a transição da mais "compreensível" arte tradicional da Grécia Antiga e da Renascença para a ala de Arte Moderna, onde eu tinha a certeza de que me questionaria sobre o porquê que uma tela pintada inteiramente de branco seria pendurada em um prestigioso museu. 

 Com certeza, à medida que dobrava a esquina para a galeria onde um tubarão de Damien Hirst flutuava ameaçadoramente em um tanque de formol, Brad virou-se para mim e disse: "Agora, por que é que a arte? Há um tubarão assim no departamento de Biologia Marinha  na minha faculdade - logo é a arte também?", eu suspirei e cuidadosamente tentei montar a explicação correta na minha cabeça, como se tendo uma graduação em arte tivesse me tornado uma especialista: "Bem, ele fez isso com a intenção de ser arte. Sua escola quis dizer isso como uma exposição de ciência ", eu disse, na esperança de resolver a discussão.

 "Então, eu poderia pegar uma cabeça de um veado morto e chamá-la de 'arte', e assim ela poderia ser pendurado em um museu?", perguntou Brad propositalmente. 

À beira de perder a minha paciência, eu comecei a dizer: "Bem, não exatamente ...", ele interrompeu com: "O que faz com que este tubarão seja mais especial do que o meu tubarão? Eu não entendo.” 

Sem querer perturbá-lo ainda mais, eu decidi não mencionar o fato que no momento a peça valia apenas 12 milhões de dólares. 

A coisa mais frustrante sobre essa conversa não era o fato de  Brad não compreender muito afundo o tema de arte, mas que suas perguntas eram completamente viáveis. Na verdade, elas eram as mesmas perguntas que nós próprios estudantes de arte nos questionamos. 

Afinal definir o que é Arte com "A" maiúsculo é tão difícil como um labirinto, e o sucesso de um artista sobre outro pode parecer completamente aleatório e controverso.

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De fato, é exatamente esse o meu sentimento, no entanto aqui vai algumas considerações destinadas aqueles que ainda insistem nesse questionamento e ficam em dúvida sobre o entendimento de arte no contexto atual.

 Primeiramente que o conceito de arte é subjetivo, desde os movimentos artísticos da década de 60, muito artistas romperam praticamente com todos os limites da arte. O que eu posso dizer é que arte é produto do fazer humano, e dito isto, não estou dizendo que o artista deva fazê-lo com suas mãos, não existem mais as exigências do talento específico do artista como saber desenhar, ou pintar, e sim que ele deva ter a ideia e concebê-la como arte.

 Os limites dentro da arte são móveis e não muito definidos, os fatores que levam este ou aquele trabalho serem sinônimo de arte são vários, a inserção deste em um espaço institucionalizado como museu e galeria é um deles.

O fato de um tubarão em um tanque de formal estar no Metropolitan Museum of Art de Nova York é garantia de que é arte, lide com isso, e dito isso, você gostar ou não desta obra não vai interferir neste conceito.

 Uma coisa que deve ser entendida é que o porque de alguma coisa ser considerada arte não implica que ela é uma boa arte, ou mesmo, uma “obra prima”. Então relaxe!

Arte é o tipo de coisa que depende, para sua existência, de interpretações e teorias; sem teorias, um tubarão é apenas um tubarão e nada mais.

Dessa maneira, conceituar algo como arte, exige nada menos que uma atmosfera de teoria e interpretação artistica.

 É importante compreendermos que o que permite atribuir o estatuto de arte a um objeto não são propriedades aparentes do objeto, esteticamente falando, mas as relações deste com o mundo da arte.

 Quer dizer, se não há nada específico para ver na obra, (como beleza, composição, técnica) há muito que ver a partir dela.

Lembre-se: As obras de arte têm um assunto, dizem respeito a algo, foram concebidas na intenção de comunicar/representar algo.

Termino aqui este texto mas para quem quer se aprofundar neste estudo da diferença de objetos considerado artísticos dos cotidianos, recomendo a leitura do livro de Arthur C. Danto "A transfiguração do lugar-comum", nele o autor examina a diferença ontológica entre trabalhos artísticos e objetos do cotidiano.

:)




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