Por
Ana Clara Sombrio Picolo
Vanessa Levati Biff
Com base no livro de Oliveira, este artigo tem por objetivo analisar a importância dos estudos de Vigotsky para o campo da Educação Estética e propõe-se discutir a questão da leitura da obra de arte contemporânea, definindo-a como arte de difícil acesso, onde o papel do mediador se torna fundamental.
A partir do exposto, observamos que estamos diante de um questionamento: De que maneira se desenvolve a compreensão de uma obra de arte contemporânea?
Compreender o estado da arte atual implica em colocar o espectador no abismo. Perguntar: Como entender a arte hoje? É uma pergunta problemática e que exige, no mínimo, uma considerável vivência com as artes.
A partir do momento em que o conceito estético da arte se desmembrou do que era até então considerado arte, pintura e escultura, é exigido do espectador uma noção mais aprofundada dos conceitos estéticos que se tem hoje.
Nesses casos a mediação tem se tornado quase que fundamental na compreensão dos valores proposto pelo artista. Podemos relacionar isso ao pensamento de Vygotsky onde o processo de mediação é fundamental para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
Uma das características do objeto artístico é ser interpretado, por outro lado, o aspecto do homem é interpretar.
Essa interpretação depende totalmente desse espectador, das relações que ele traça junto a sua bagagem cultural, ao que ele já conhece, às suas memórias, a sua capacidade de perceber.
Vygotsky coloca que a percepção ao longo do desenvolvimento humano torna-se cada vez mais um processo complexo, que se distancia das determinações fisiológicas dos órgãos sensoriais, entretanto, principalmente através da internalização da linguagem e dos conceitos e significados culturalmente desenvolvidos, a percepção deixa de ser uma relação direta entre o individuo e o meio, passando a ser mediada por conteúdos culturais, agindo portanto num sistema que envolve outras funções, ou seja, ao percebemos numa obra elementos do mundo real, fazemos interferências baseadas em conhecimentos já adquiridos.
Em se tratando de arte, é necessário saber conduzir o espectador/aluno/observador, permitindo que a soma das interpretações pessoais de uma obra ofereça, quase sempre, novas possibilidades. Isso nos remete ao estudo de Vygotsky e seu conceito da plasticidade cerebral, que coloca que a espécie humana dispõe de infindáveis possibilidades de desenvolvimento que só serão ativadas na interação com o outro.
Em outras palavras a discussão acerca do objeto de arte é uma ampliação das possibilidades interpretativas do objeto até os limites por ele próprio impostos, que neste momento é ativado pelo papel do mediador.
Assim, cabe ao mediador de exposições, bem como ao professor, saber se articular entre as interpretações previamente despertadas pelo espectador, pois serão essas que vão conferir coerência e significado ao seu contato com objeto artístico.
Seria tomar como partida aquilo que observador já sabe (desenvolvimento real), objetivando o amadurecimento dessa interpretação, o que define Vigotsky como zona de desenvolvimento proximal.
O mediador, portanto, não só apresenta um determinado conteúdo, mas estimula o valor significativo de tal objeto, ele dinamiza o fornecimento de informações para que as interpretações façam sentido, estimulando a reflexão sobre a percepção de cada aluno sobre a mesma obra de arte.
E não somente isso, ele favorece a recriação do objeto artístico, que nesse estágio se torna um objeto aberto a novas interpretações, não se limitando apenas às intenções do artista, mas também levando o espectador a provocar novos questionamentos estéticos e a estabelecer seus critérios críticos de arte, que até então eram nulos.
Podemos assim estabelecer essa relação ao pensamento de Vygotsky cujo o desenvolvimento do espectador não se dá somente através da atividade cerebral, suporte biológico, mas também nas relações sociais entre individuo e o mundo exterior, neste caso, na relação estabelecida entre artista, obra e mediação.
REFERÊNCIAS
LIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. 4 ed. São Paulo: Ed. Scipione, 1999. 111 p.
*Artigo elaborado para a disciplina Teoria do Conhecimento da Especialização Educação Estética: Arte e as perspectivas contemporâneas na Universidade do Extremo Sul Catarinense.